A Sinhá era muito amiga da mamãe. A diferença de idade não era tão grande. Ela se abria muito com a mamãe, que a aconselhava. Nós todos torcíamos para que ela se casasse com o Olindo mas, infelizmente, preferiu fazer a vontade do pai. Deixou de se casar com Olindo para satisfazê-lo e continuou apaixonada, mesmo tendo se casado com quem o pai indicou. Sofreu muito por causa disso. Sentiu muito. A família apoiava a decisão dela. Quando ele vinha para Santa Rita, se encontravam lá em casa. Ficavam na sala de visitas.
Não sei quanto tempo namoraram. Sei que quando terminaram, ele sempre vinha a Santa Rita e ia lá em casa ter notícias dela. Ele e a mamãe sentavam-se na sala e perguntava demais. Ele chorava. Era um homem tão bonito, tão cem por cento… muito alinhado. Tinha dois lenços. Um para o nariz e outro para limpar as lágrimas.
Em certa ocasião em que esteve lá, ficaram conversando na sala de jantar e eu (Regina) entrei com a Doroty. Sei que olhávamos uma para a cara da outra e ríamos. A mamãe ficou danada da vida. Queria que a gente fosse embora. Olindo estava amargurado, chorando. Mamãe, então, virou o meu braço e me deu um beliscão para me mostrar que não estava gostando.
O casamento de Sinhá foi arranjado. Casou-se com um primo, que era da embaixada. No casamento, nós fomos damas de honra. Éramos pequenas, com 7 a 8 anos. Fui eu quem carregou as alianças. Antonieta e Doroty carregaram as almofadas. Dizem que ele não foi um bom marido.
Depois que Sinhá se separou, costumava reunir a mocidade local e levar para bailes em cidades diferentes. Naquele tempo, era muito difícil encontrar condução. Ou era de trem, ou por estrada de terra.
Quando tinha baile em Itajubá, e lá tinha escola eletrotécnica, ela levava as moças. Os pais tinham confiança. Sabiam que ela olhava e não deixava faltar nada. Nós íamos de trem, ficávamos até de madrugada, saíamos às cinco da manhã. íamos para o hotel, trocávamos de roupa e voltávamos para Santa Rita. Ela não dançava. Impunha respeito, era muito chique e muito elegante. Ninguém brincava com ela. Sinhá conversava, mas não dava liberdade.
Era muito enérgica, igual ao pai. A figura do Chico Moreira já impunha muito respeito e ela não ficava atrás. A mãe era mais fechada. Não era muito alegre, mas sempre foi muito boa e passava lá em casa quase todo dia. De manhã ia à missa e depois nos visitava.
Sinhá gostava de escrever e de ler. Apreciava uma boa comida e gostava de organizar banquetes sempre que vinha alguém importante. Ela não tinha um prato favorito. Acho que comia e gostava de tudo. Tomava vinho e champagne. A maneira com que se vestia era muito elegante. Era sóbria e muito chique. Todo mundo queria vê-la nas festas. Ficávamos procurando por ela no salão.
Quando tinha casamento da alta sociedade, Sinhá fazia os arranjos no porão de sua casa. Tinha uma turma que ia ajudar. Eu (Regina) sempre ia e depois levávamos os enfeites para a igreja. Ela tinha muito bom gosto.
Nos banquetes que ela fazia, eu participava como garçonete. Ela fazia a gente pôr um vestidinho azul-marinho, um avental branco e até uma tiarinha na cabeça. Era uma garçonete mesmo. Ajudávamos a servir.
Sinhá gostava de reunir a turma, moças e rapazes, para ensinar a dançar. Ensinava quadrilha, porque todo mundo organizava festa junina e os moços dançavam nas festas.
Em novembro, ela organizava a festa das jabuticabas. Sempre tinha um palco onde iam e dançavam. Todos moravam em Santa Rita. No evento, elegiam a Rainha das Jabuticabas. As moças se candidatavam e depois eram votadas.
Sinhá não negava auxílio. O que podia fazer, fazia. Era muito católica. Ajudava sempre nas festas religiosas. Jamais transparecia tristeza. Seu semblante era o mesmo. Enfrentou a morte da mãe sem aparentar sofrimento, sempre ao lado do pai. Os dois não se largavam. Toda noite, após o jantar, ficavam andando na varanda de um lado para o outro, conversando sobre tudo. Ela o amava muito. Eram parecidos até na fisionomia. Brigavam bastante, mas não guardavam raiva.
O enterro de Sinhá foi uma coisa de chamar a atenção. Era gente até trepada em árvore para ver o cortejo. Primeiro, o velório ficou na casa do irmão dela, o Moreirinha. Depois, foi para a ETE. O caixão ficou no mesmo lugar onde há um busto dela. Só depois é que foi para o cemitério.