O busto do presidente Delfim Moreira foi erigido em Santa Rita do Sapucaí, em frente à sua residência, através da colaboração de dezenas de moradores e de um bom número de câmaras municipais. Para isso, foi criada uma comissão com o objetivo de arrecadar fundos, encomendar a obra e realizar o pagamento das parcelas. No dia 25 de fevereiro de 1923, foi concluída a execução da maquete que, após obter a avaliação do grupo, foi aprovada por unanimidade. Coube ao Deputado Federal Theodomiro Carneiro Santiago, delegado da comissão no Rio de Janeiro, autorizar que o escultor Antonino Mattos desse prosseguimento ao projeto.
Ao definir a data para a realização do evento, o presidente da comissão para execução da obra, Amphilóquio Campos do Amaral, determinou a distribuição dos convites às autoridades, prefeituras, câmaras municipais e colaboradores, além de solicitar ao governo de Minas um vagão especial para transporte das peças de bronze que fariam o trajeto da estação de Cruzeiro até a Afonso Pena.
Todos os detalhes foram arquitetados. A cidade se mobilizou e os mais importantes nomes da época tomaram a dianteira para que a trajetória de Delfim Moreira fosse eternizada, em praça pública. A atenção foi tamanha por parte de Theodomiro Santiago que, após a conclusão da escultura em gesso, o deputado fez questão de levá-la ao português Costa Motta Sobrinho, uma das maiores autoridades em monumentos, para que fizesse uma avaliação. Somente após o seu aval, a fundição em bronze teve início.
Faltando 5 dias para a solenidade, a apreensão tomou conta da cidade. Todos queriam saber qual teria sido o resultado. Para conter a ansiedade, o escultor enviou uma correspondência contando as motivações para a sua execução. Assim falou Antonino de Mattos: “As proporções do local a que se destina o monumento por mim escolhido, por ser de todos o que mais qualidade encerra, não só históricas como também artísticas, não comportaria um trabalho de grandes dimensões. Sendo assim, procurei, ao reduzir o tamanho, aumentar a ideia representativa. Eu teria mais vantagens materiais se representasse a figura que queremos numa só estátua. Se tivesse maiores proporções, iria depor contra a minha consciência de artista e sacrificar a verdade histórica dos fatos. Eis a razão pela qual escolhi uma representação mais vasta, porém em menores proporções. Maior será, no entanto, a síntese do pensamento de um estadista como foi Delfim Moreira. A obra terá, em altura máxima, três metros e cinquenta centímetros. Já sua base, perfeitamente quadrada, dois metros e cinquenta centímetros. A linha geral do monumento terá forma piramidal. A figura principal, que representa o próprio presidente, acha-se em perfeito equilíbrio com o resto da composição, como se esta fosse o seu próprio pensamento. A sua posição calma e cheia de concentração é bem a do estadista que medita em todas as coisas que envolvem a pátria. A composição que circunda o pedestal é a homenagem a todas as coisas que são o pensamento de um estadista perfeito: a instrução; a pátria; a lavoura; as indústrias, a navegação e o trabalho; as artes. Nos diversos lados da base, acham-se executadas guirlandas de louros e carvalhos, símbolos da glória. Infelizmente, não poderei aceitar o honroso convite de ser o orador na inauguração do evento por estar anteriormente agendado para o dia 8 (um dia depois) o casamento do meu filho.”
Várias autoridades foram convidadas para a comemoração que aconteceria no dia 7 de setembro de 1923. Talvez, justamente por conta da data, algumas não puderam comparecer, como foi o caso do Presidente Arthur Bernardes que enviou o seguinte telegrama: “Telegrafo nessa data pedindo ao senhor Francisco Moreira da Costa que me represente na solenidade de inauguração, visto não ser possível comparecer à comemoração.” Mesmo com a ausência do presidente, alguns homens importantes confirmaram presença, dentre eles: o governador de Minas, Arthur Soares; Fernando de Melo Vianna, Secretário do Interior; Daniel de Carvalho, Secretário da Agricultura; Astolpho Azevedo, Presidente da Câmara dos Deputados e Flávio Fernandes, prefeito de Belo Horizonte. Todos os outros municípios mineiros enviariam representantes. O evento seria um sucesso.
Ao amanhecer do dia da Independência, a cidade dava sinais de que seria um dia atípico. Crianças, jovens e moças das instituições de ensino e diversas autoridades ocuparam as ruas. O escultor, que não viria por conta do casamento do filho, compareceu e manteve o monumento coberto até a inauguração.
Pela manhã, todos caminharam para a igreja, onde seria celebrada uma missa pelo Monsenhor Calazans, vigário da paróquia. Em seguida, a multidão caminhou em direção ao túmulo do ex-presidente, acompanhada por cerca de 700 alunos uniformizados, com diversas coroas de flores a serem depositadas na cripta da família Moreira, ponto central e mais alto do cemitério. Quando lá chegaram, outra missa foi celebrada, desta vez pelo cônego Macaio. Ao término da cerimônia, foi a vez do deputado Eurico Dutra realizar um discurso, sucedido por outras homenagens.
No decorrer do dia, o ambiente manteve-se festivo. Automóveis, das mais diversas procedências, emprestaram um movimento incomum ao município. Ao meio dia, o pelotão do Instituto Moderno (IMEE) se uniu ao do Ginásio São José (de Pouso Alegre) para marchar pelas principais ruas. Às treze horas, o grupo escolar Delfim Moreira realizou o hasteamento da bandeira nas dependências da instituição construída pelo próprio homenageado. A inauguração do busto aconteceu às cinco da tarde, quando ninguém aguentava de curiosidade de saber o que havia sob a bandeira que encobria a obra.
A emoção tomou conta de todos, quando o busto foi revelado. Para surpresa dos presentes, o trecho de um discurso proferido por Delfim Moreira, em 1913, aos alunos do Instituto Moderno de Educação, estava gravado na escultura: “Façamos sobre a terra o maior bem possível para que as gerações vindouras nos abençoem a memória.” A multidão que ocupava toda a extensão da praça e que alcançava a ponte metálica, trazida pelo homenageado durante seu governo estadual, se emocionou, embalada pela Lira Nova Aurora.
Muitos discursos foram proferidos até o final do dia, como o do Ex-Presidente Wenceslau Braz – colega de faculdade e grande amigo de Delfim Moreira. Após a inauguração, o antigo Cine Theatro Santa Rita recebeu as crianças da cidade para uma apresentação infantil, organizada pelo Grupão. À noite, o Club Recreativo promoveu um baile às autoridades. A festa se estendeu até a madrugada do dia 8, quando os santa-ritenses retornaram às suas casas com a certeza de que jamais haviam visto algo tão grandioso.
(Baseado em reportagem publicada no Correio do Sul)