Como teve início a sua paixão pela música?
Essa minha paixão musical teve início na minha infância, quando eu morava no Vidigal, no Rio de Janeiro. Lá eu fui criado até os quinze anos de idade e comecei a gostar de música, com a minha mãe. Ela cantava muito em casa, tinha muitos discos de vinil e fomos, eu e meus irmãos, educados sempre ouvindo músicas de todos os gêneros.
Você tinha contato com as rodas de samba no Vidigal?
Tinha sim! Havia, na minha época, a escola de samba “Unidos do Vidigal” e eu sempre via os ensaios que aconteciam na rua. Nós ficávamos sempre por ali como espectadores. Na época do carnaval, havia um bloco que eu acho que existe até hoje e nós estávamos sempre por ali. Talvez aquela tenha sido a minha primeira experiência com a música, fora da minha casa, mas ainda não participava.
E como começou o seu envolvimento com Santa Rita do Sapucaí?
Teve início, ainda na adolescência, quando comecei a vir para cá porque a minha mãe, Maria Aparecida Silva de Barros, é de Santa Rita. Em todas as férias de julho, época de carnaval e festas de final de ano, eu sempre estava aqui com os meus irmãos. Na época de carnaval, que era mais atribulada no Rio de Janeiro, com muita violência, ela sempre mandava a gente para cá. Nós acabamos nos apaixonando por Santa Rita.
Qual foi a primeira vez que você se viu cantando?
Foi ainda na minha casa. A minha mãe era doméstica, deixava eu e meus dois irmãos em casa e nós ficávamos ouvindo os discos de vinil dela e cantando. Quando fiquei um pouco mais velho, comecei a fazer algumas participações, embora não fosse nada profissional. Cantava em rodas de samba, botequim. Pedia o microfone e cantava, sem passar pela minha cabeça que isso fosse se profissionalizar.
E lembra quando alguém chegou, pela primeira vez, para fazer um elogio?
Para cair a ficha de que eu poderia cantar levou um bom tempo. Diria que foi até depois do grupo já estar formado em Santa Rita e de termos feito a abertura do show do Exaltasamba. No segundo grupo que eu tive aqui em Santa Rita, chamado Klínica Geral, fiquei admirado quando saí de um bar e vi uma multidão indo embora junto comigo. Daí eu pensei: ‘Será que essas pessoas vieram pra me ver?’ Foi ali que eu percebi que meu trabalho poderia atrair um bom público. Mas eu ainda tinha dúvidas se estava no caminho certo. Sempre ouvi das pessoas que eu cantava muito bem mas, o mais importante, era saber se o trabalho como músico seria o suficiente para pagar os meus boletos.
A profissão artística é bem difícil, não é?!
Costumo dizer que, no Brasil, a gente não vive de música… a gente sobrevive. Não recebemos o apoio que poderíamos e estamos sempre em dúvida sobre como iremos alimentar a nossa família, caso optarmos por viver somente da música.
Aqui em Santa Rita, onde você costumava se apresentar?
Eu comecei com o grupo Saidera, tinha conhecido o pessoal da família do Ricardo, e nós tocávamos em botequins e nos apresentávamos no bar do Sininho. Chegou um momento em que uma apresentação nossa atraiu mais de 800 pessoas na AABB, fizemos uma segunda apresentação com o mesmo volume de público e colocamos na cabeça que aquilo iria dar certo. Como não tínhamos um ponto fixo e, na época, o que mandava era o sertanejo, íamos abrindo a picada. Nós mesmos alugávamos um lugar, promovíamos os eventos e tirávamos o nosso lucro. Como não tínhamos opção, começamos a inventar eventos para fazer nossas apresentações. Depois de algum tempo é que começamos a nos apresentar em bares e restaurantes.
Das apresentações que você fez, qual foi a que mais o marcou?
É difícil escolher uma, mas a primeira foi ter feito a abertura do show do Exaltasamba, no estádio Erasmo Cabral. Aquela foi bem representativa para mim. Foi em uma Festa de Santa Rita e o Exaltasamba estava no auge.
Hoje, o seu filho, Uill Di Lucca, tornou-se um músico respeitado na cidade e tem feito apresentações com você, não é?!
Por ser o meu filho mais velho, o Uilian sempre me acompanhou, ainda no Rio de Janeiro. Bem menino, ele me via compor. Muitas das minhas músicas nem eu lembro e ele se recorda porque estava ao meu lado, quando as escrevi. Daí ele foi tomando gosto pela música também, começou a cantar na igreja e está aí comigo até hoje! Nós cantamos juntos, ele vai lançar um trabalho autoral também e vai cantar uma música minha. Até o final do ano ou começo do outro ele deverá lançar o seu projeto também!
Algo que chamou a atenção, não somente do público local, como dos turistas que vieram à cidade foi a apresentação que você e seu filho fizeram durante o último HackTown…
Esta apresentação me envaideceu muito e você não é o primeiro que comenta sobre isso. O público que lá estava, formado por turistas, palestrantes e estudantes, se juntou à massa! Ali foi um momento de catarse para o evento e funcionou como um ponto de encerramento onde as pessoas descarregaram as tensões e se soltaram. Os próprios organizadores elogiaram bastante a nossa participação e foi uma coisa muito diferente para nós. Foi muito interessante haver um evento do nível do HackTown, mas no Beco do Saci. Foi um evento muito democrático. Até acho que os organizadores deveriam criar ali um corredor cultural, com arte e uma revitalização do espaço. Vai ficar lindo!
Você poderia contar um pouco sobre o seu último trabalho autoral?
Este é o segundo trabalho solo que eu faço e que me deu muita liberdade para criar. Atuar com o grupo é muito bom, mas gravar de forma solo me deu um pouco mais de liberdade para fazer do meu jeito. Nós produzimos algumas músicas “raiz” e até uma balada romântica. A produção é do Ronaldo Marques, profissional bem conhecido em São Paulo e que trabalhou, inclusive, no primeiro disco do grupo Pixote. Contamos com uma equipe de músicos maravilhosos, como o tecladista Edu Neto, maestro conhecidíssimo; o baterista do Tiaguinho, Fabinho Viotto, dentre outros! Estou muito satisfeito. O trabalho ficou muito bom e super profissional. Já está nas plataformas digitais.